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Uma vida nova e feliz? A ideologia do desenvolvimento

August 7, 2020 by Charles Eisenstein Leave a Comment

August 2020
Tradução: Victoria Mouawad Revisão: Julia Sereno  Existe uma versão em inglês deste ensaio.


No livro 1984 de George Orwell, há um momento em que o partido anuncia um ‘aumento’ na porção de chocolate – de trinta gramas para vinte. Ninguém além do protagonista, Winston, parece perceber que a porção foi reduzida, e não acrescida. 

“Camaradas!”, gritou uma voz juvenil entusiasmada. “Atenção, camaradas! Temos novidades gloriosas para vocês. Vencemos a batalha da produção! Os proventos oriundos da produção de todos os tipos de bens de consumo acabam de ser calculados e mostram que o padrão de vida subiu nada menos que vinte por cento em relação ao ano passado. Esta manhã, em todo o território da Oceania, houve manifestações espontâneas incontroláveis, com os trabalhadores retirando-se de fábricas e escritórios e marchando pelas ruas com bandeiras,  expressando sua gratidão para com o Grande Irmão, pela vida nova e feliz que sua sábia liderança nos proporcionou.

O apresentador prossegue com uma série de estatísticas provando que tudo está indo de vento em popa. A frase em voga é “nossa vida nova e feliz”. É claro que, assim como com a porção de chocolate, não há dúvida de que as estatísticas sejam falsas. 

Essas palavras, ‘nossa vida nova e feliz’, vieram-me à mente enquanto lia dois artigos recentes, um de Nicholas Kristof no New York Times e outro de Stephen Pinker no Wall Street Journal. Ambos afirmavam, com o apoio de dados estatísticos, que a condição geral da humanidade está melhor agora do que em qualquer outro período da história. Há menos mortes por guerras, acidentes de carro, acidentes de avião, e até por armas de fogo. As taxas de pobreza nunca estiveram tão baixas, nem a expectativa de vida tão alta. Além disso, há mais pessoas vivendo em democracias, alfabetizadas e com acesso à energia elétrica e água corrente do que em qualquer outra época anterior. 

Assim como em 1984, esses artigos reafirmam e celebram o rumo que a sociedade está tomando. Nós estamos no caminho certo. Com uma convicção presunçosa, eles nos dizem que graças à razão, à ciência e ao esclarecido pensamento político ocidental, estamos dando grandes passos em direção a um mundo melhor.  

Assim como em 1984, há algo de enganoso nesses argumentos que servem tão explicitamente à ordem vigente. 

Mas, diferentemente de 1984, o engano não é produto de falsas estatísticas. 

Antes de explicar a falácia e o que se esconde por trás dela, gostaria de assegurar ao leitor que esse ensaio não tem como objetivo provar que as coisas só estão piorando. Na verdade, eu compartilho o princípio básico do otimismo de Kristof e Pinker de que a humanidade está trilhando um caminho evolutivo positivo. No entanto, para dar continuidade a essa evolução, devemos reconhecer e integrar o horror, o sofrimento e a perda que são ignorados na narrativa triunfante do progresso civilizatório. 

O que os números escondem 

Em outras palavras, nós devemos confrontar precisamente o que as estatísticas de Stephen Pinker deixam de lado. De modo geral, apesar de parecerem objetivas, as análises baseadas em métricas estão impregnadas do viés daqueles que decidem o que mensurar, como mensurar e o que não deve ser mensurado. Além disso, também desvalorizam aquilo que não sabemos medir ou o que é intrinsecamente imensurável. Vou dar alguns exemplos. 

Nicholas Kristof comemora o declínio no número de pessoas vivendo com menos de dois dólares por dia. O que pode estar por trás desse dado? Bem, toda vez que povos originários são forçados a abandonar suas terras e irem trabalhar em condições análogas à escravidão no campo ou na cidade, a renda passa de zero a alguns dólares por dia. Os números parecem positivos. O PIB aumenta. E os efeitos colaterais são invisíveis. 

Nas últimas décadas, milhares de pessoas dos países do Sul do planeta deixaram o campo para instalarem-se em cidades em pleno desenvolvimento. A maior parte dessas pessoas não participou da economia monetária por muito tempo. Nos pequenos vilarejos da Índia ou da África, a economia era de subsistência ou de doação: a maioria das pessoas obtinha comida, construía moradia, confeccionava roupas e se entretinha sem grande necessidade de usar dinheiro. Quando a economia globalizada e as políticas de desenvolvimento forçam nações inteiras a gerar câmbio para cumprir com as obrigações da dívida, a urbanização é consequência inevitável. Em uma favela de Lagos ou Kolkata, dois dólares por dia é uma miséria, ao passo que em um vilarejo tradicional esse valor pode significar abundância. Quando o curso do desenvolvimento e da urbanização é ignorado, o fato de os moradores da favela que recebiam dois dólares por dia passarem a receber, digamos, cinco, é mesmo uma coisa boa. No entanto, focar apenas nesse número oculta mecanismos bem mais complexos. 

Kristof afirma que 2017 foi o melhor ano de todos para a saúde da humanidade. Se medirmos a incidência de doenças infecciosas, ele tem certamente razão. A expectativa de vida também continua a aumentar globalmente (apesar de estar se estabilizando e até mesmo começando a cair em alguns países, como nos Estados Unidos). Mas, novamente, essas métricas ocultam tendências preocupantes. Uma miríade de novas doenças como autoimunidade, alergias, doença de Lyme e autismo, somadas a níveis inéditos de vício, depressão e obesidade, contribuem para o declínio da vitalidade física em todo o mundo desenvolvido. Isso também começa a acontecer cada vez mais nos países em desenvolvimento. Grandes recursos sociais – um quinto do PIB nos Estados Unidos –  vão para cuidados de saúde; a sociedade como um todo não está bem. 

Ambos autores também mencionam a alfabetização. O que as estatísticas podem esconder aqui? Primeiramente, a transição para a alfabetização significou, em muitos lugares, a destruição de tradições orais e até mesmo a extinção completa de línguas ágrafas. A alfabetização é parte de uma reestruturação social mais ampla, uma transição para a modernidade, que traz consigo homogeneização cultural e linguística. Centenas de milhares de crianças vão à escola para aprender a ler, escrever e calcular; história, ciência, e Shakespeare, em lugares onde, uma geração antes, eles teriam aprendido a arrebanhar cabras, cultivar cevada, fazer tijolos, confeccionar roupas, conduzir cerimônias ou assar pão. Eles teriam aprendido as utilidades de mil plantas e os cantos de cem pássaros, as palavras de mil estórias e os passos de cem danças. A adaptação à cultura escrita faz parte de uma mudança bem maior. Pessoas sensatas podem divergir a respeito dessa mudança ser boa ou ruim, se nos damos melhor nas redes sociais mais do que em comunidades ancoradas em um território, se nos damos melhor reconhecendo logos corporativos mais do que plantas e animais locais, se nos damos melhor manipulando símbolos do que trabalhando a terra. Porém, somente com uma visão de mundo comprometida poderia afirmar que essa guinada representa indiscutivelmente um progresso. 

Minha intenção aqui não é de usar palavras escritas para denunciar a alfabetização, embora isso pudesse ser deliciosamente irônico. Estou apenas observando que os métodos para medir o progresso são tendenciosos e negligenciam aquilo que não se encaixa confortavelmente na visão de mundo daqueles que os concebem. Certamente, em uma sociedade já modernizada, o analfabetismo é uma desvantagem terrível, mas fora desse contexto, não está claro que uma sociedade alfabetizada – ou sua extensão, uma sociedade digitalizada – seja uma sociedade feliz. 

A felicidade é imensurável 

Sejam elas tendenciosas ou não, não podemos contrapor as métricas da felicidade de Pinker. Elas são a base de seu argumento de que a ciência, a razão e os ideais políticos ocidentais trabalham juntos para construir um mundo melhor. Quanto mais avançado o país, diz ele, mais felizes são seus habitantes. Logo, quanto mais o resto do mundo desenvolver-se seguindo o caminho criado pelas potências do ocidente, mais feliz esse mundo será.  

Infelizmente, as estatísticas da felicidade tomam como hipóteses as mesmas conclusões que o argumento desenvolvimentista tenta provar. De modo geral, as ferramentas usadas para medir a felicidade consistem em duas abordagens: métricas objetivas de bem-estar e relatos subjetivos de felicidade. Métricas de bem-estar incluem fatores como renda per capita, expectativa de vida, tempo de lazer, nível de educação, acesso à saúde, e vários outros indícios de desenvolvimento. Entretanto, em muitas culturas por exemplo, o “lazer” não era um conceito; o lazer em oposição ao trabalho pressupõe que o trabalho seja o que ele se tornou na Revolução Industrial: entediante, degradante, opressivo. Em uma cultura onde o trabalho não pode ser nitidamente dissociado da vida diária, essa métrica é errónea; assista ao maravilhoso filme Ancient Futures de Helena Norberg-Hodge para um retrato de tal cultura, na qual, como diz o filme, ‘lazer e trabalho são a mesma coisa’. 

Os indicadores objetivos de bem-estar estão inscritos em uma certa concepção de desenvolvimento; especificamente, no modelo de desenvolvimento que predomina hoje em dia. Assim, dizer que países desenvolvidos são mais felizes é seguir uma lógica circular. 

Quanto aos relatos subjetivos de felicidade individual, a observação pessoal de cada um usa necessariamente como referência a cultura a sua volta. Eu avalio minha felicidade em comparação ao nível normativo de felicidade ao meu redor. Uma sociedade com níveis alarmantes de ansiedade e depressão traça uma linha de referência muito baixa. Uma mulher me disse uma vez “Eu costumava me considerar uma pessoa razoavelmente feliz até visitar um vilarejo no Afeganistão, próximo de onde eu estava alocada com o exército. Eu queria ver como as coisas eram sob uma outra perspectiva. A pobreza nesse vilarejo era desesperadora. As malocas não tinham nem piso sequer. Apenas poeira que, com frequência, transformava-se em lama. Eles mal tinham comida suficiente. Mas eu nunca tinha visto pessoas mais felizes do que eles. Eles transbordavam alegria e generosidade. Essas pessoas, que não tinham nada, eram mais felizes do que praticamente qualquer pessoa que eu conheça.” 

O que quer que seja que esses camponeses Afegãos tinham para fazê-los felizes, acho que isso não aparece nas estatísticas de Stephen Pinker, que pretendem provar que eles deveriam seguir nosso caminho. O leitor pode ter tido experiências similares no México, no Brasil, na África ou na Índia. Nos remansos d’água indianos, encontramos níveis de alegria que são extremamente raros nas casas padronizadas do subúrbio do meu país, os Estados Unidos. E isso apesar dos séculos de imperialismo, guerra e colonialismo. Imagine só a felicidade possível de se alcançar em um mundo justo e pacífico. 

Estou seguro que meu ponto aqui não será convincente àqueles que não vivenciaram uma experiência como essa. É possível que pensem que os nativos estivessem apenas sorrindo para agradar os visitantes . Ou talvez que eu esteja vendo eles sob uma lente romantizada de ‘nativos felizes’.  Mas eu não estou falando de entusiasmo superficial ou do sorriso forçado de um homem que tenta tirar leite de pedra. Pessoas de culturas tradicionais, conectadas à comunidade e ao lugar, inseridas em uma linhagem de ancestrais, entranhadas em uma rede de narrativas pessoais e culturais, radiam um tipo de solidez e presença que raramente encontro em qualquer pessoa moderna. Quando interajo com qualquer um deles, sei que o quer que seja que ganhamos com a Ascensão da Humanidade, perdemos também algo imensuravelmente precioso. E eu sei que até nos darmos conta disso e nos empenharmos para resgatá-lo, nenhum progresso em termos de longevidade, PIB ou alcance educacional nos levará a lugares que valem a pena. 

Quais outros elementos de bem-estar profundo fogem às nossas análises? Autenticidade de comunicação? A intimidade e vitalidade das nossas relações? Familiaridade com plantas e animais locais? Encantamento estético pelo entorno construído? Participação significativa no esforço coletivo? Senso de comunidade e solidariedade social? O que já foi perdido é difícil de mensurar, mesmo se estivéssemos dispostos a tentar. Ainda assim, a perda lança uma sombra no coração, uma escuridão saudosa que nenhuma garantia de vida nova e feliz pode aplacar. 

Mesmo que a amplitude dessa perda – e, consequentemente, o potencial de sua recuperação – seja imensurável, há entretanto estatísticas deixadas de lado na análise de Pinker que apontam para isso. Estou me referindo às altas taxas de suicídio, vício em crack, vício em opióides, pornografia, jogos de azar, ansiedade e depressão que intoxicam a sociedade moderna e qualquer sociedade em processo de modernização. Essas não são apenas moscas aleatórias que pousaram na sopa no progresso; são sintomas de uma crise profunda. Quando a comunidade se desintegra, quando laços com a natureza e com a localidade são rompidos, quando estruturas de sentido colapsam, quando conexões que nos plenificam secam, nos tornamos ávidos por substitutivos aditivos para anestesiar a saudade e preencher o vazio. 

A perda da qual estou falando é inseparável das mesmas instituições – ciência, tecnologia, indústria, capitalismo e o ideal político do indivíduo racional – que Stephen Pinker diz terem salvado a humanidade da miséria. Logo, devemos ter cuidado ao atribuir a essas instituições algumas melhorias incontestáveis em comparação à Idade Média ou aos primórdios da Revolução Industrial.  Poderia haver outra explicação? Será que essas melhorias podem ter surgido apesar da ciência, do capitalismo, do individualismo racional, etc, e não devido a eles? 

A hipótese da empatia 

Uma das melhorias que Stephen Pinker destaca é o declínio da violência. Acidentes de guerra, homicídio e crimes violentos diminuíram significativamente em relação a uma ou duas gerações atrás. O declínio da violência é real, mas será que deveríamos atribuí-lo, como Pinker o faz, à democracia, à razão, ao estado de direito, ao controle baseado em dados, e assim por diante? Eu acredito que não. A democracia não é nenhuma garantia contra a guerra – na verdade, os Estados Unidos perpetuaram muito mais ações militares do que qualquer outro país nos últimos cinquenta anos. Será que esse declínio da violência só se deu porque aprimoramos nossas técnicas de punição e proteção contra o outro, porque sufocamos nossos impulsos selvagens perante as tecnologias de intimidação? 

Eu tenho outra hipótese. O declínio da violência não é resultado do aperfeiçoamento do mundo do indivíduo racional, egoísta, guiado pelo interesse próprio. Ao contrário, é resultado do colapso desse esquema, que abre espaço para a escalada da empatia. 

Na mitologia do indivíduo independente, o objetivo do estado era garantir um equilíbrio entre liberdade individual e o bem comum estabelecendo limites à busca dos interesses próprios. Na mitologia emergente da interconexão, da ecologia e do entre-ser, despertamos para a compreensão de que o bem dos outros, sejam eles humanos ou não, é inseparável do nosso próprio bem-estar. 

A questão que define a empatia é ‘Como é ser você?’ Em oposição, a mentalidade da guerra é a alterização, a desumanização e a demonização de pessoas que tornam-se inimigas. Isso fica ainda mais difícil quando nos acostumamos a levar em consideração a experiência de outro ser humano. Esse é o porquê da guerra, da pena de morte e da violência como um todo terem tornado-se menos aceitáveis. Não é que elas sejam ‘irracionais’. Pelo contrário, os núcleos pensantes do sistema em vigor estão acostumados a inventar justificativas extremamente racionais para tudo isso. 

Em uma visão de mundo baseada numa lógica de concorrência entre agentes egoístas, o ‘racional’ é passar a perna nos outros, dominá-los e explorá-los de qualquer maneira possível. Não foram os avanços na ciência ou na razão que aboliram a jornada de 14 horas de trabalho, a escravidão ou a prisão por dívidas. 

A concepção de mundo da ecologia, da interdependência e do entre-ser propõe outros axiomas nos quais exercer nossa razão. 

A compreensão de que o outro também possui uma existência nos torna menos capazes de desumanizá-lo. A compreensão de que o que acontece com o mundo, de algum modo, acontece conosco também, inviabiliza as guerras. A compreensão de que a saúde do solo, da água e dos ecossistemas é inseparável da nossa própria saúde desestimula sua devastação. 

De um jeito perverso, os entusiastas da ciência e da tecnologia como Stephen Pinker estão certos: a ciência efetivamente acabou com a era das guerras. Não porque nos tornamos tão inteligentes e desenvolvidos que transcendemos nossos impulsos primitivos. Mas sim porque a ciência nos levou ao extremo da selvageria que tornou-se impossível sustentar o mito da separação. O aperfeiçoamento tecnológico da nossa capacidade para matar e destruir torna cada vez mais claro que não podemos virar as costas para o mal que causamos ao próximo. Não foi a superstição primitiva que nos deu as armas de fogo e a bomba atômica. A industrialização não nos colocou um passo evolucionário à frente da barbárie; ela aplicou a barbárie em escala industrial. A administração racional não nos elevou acima do genocídio; ela permitiu que isso acontecesse em escala e eficiência inéditas no Holocausto. A ciência não nos revelou a irracionalidade da guerra; ela nos levou ao ponto máximo da irracionalidade, a Destruição Mútua Assegurada da Guerra Fria. Nesse sentido, a insanidade foi a semente para um verdadeiro saber evolutivo – o de que o que fazemos com os outros, acontece conosco também. É por isso que, com exceção de um quadro retrógrado de políticos americanos, ninguém mais considera usar armas nucleares hoje em dia. 

O horror que sentimos com a perspectiva de bombardear Pyongyang ou Teerã, por exemplo, não vem do medo de uma retaliação radioativa ou terror retributivo. Estou certo de que ele surge a partir da identificação empática que estabelecemos com as vítimas. Conforme a consciência do entre-ser emerge, não podemos mais simplesmente varrer para debaixo do tapete o sofrimento dessas pessoas, como se fosse um castigo pela maldade que cometeram ou o preço que devemos pagar em troca da liberdade. É como se, em algum nível, isso também acontecesse conosco. 

Certamente, não faltam atrocidades no mundo atual: abusos de direitos humanos, esquadrões da morte, tortura, violência doméstica, violência militar e crimes violentos ainda acontecem. A observação da escalada de uma maré de compaixão em meio a tudo isso não é a dissimulação da feiura, mas sim um chamado para participação engajada nesse movimento. No plano pessoal, trata-se de um movimento de bondade, compaixão, empatia, de apropriar-se dos próprios julgamentos e projeções, e de – não contraditoriamente – ter a coragem para falar verdades que incomodam, de expor o que está escondido, de lançar luz sobre a violência e a injustiça, de contar as histórias que precisam ser ouvidas. Juntas, a compaixão e a verdade podem tecer uma política na qual a injustiça é apontada, mas em vez de se condenar o responsável, busca-se compreender e modificar as circunstâncias que o levaram inicialmente a cometer tal ato. 

Sob o ponto de vista da empatia, o objetivo não é punir os criminosos, mas entender as circunstâncias que criam a criminalidade. O objetivo não é lutar contra o terrorismo, mas entender e modificar as condições que o produzem. O objetivo não é barrar todos os imigrantes, mas entender o desespero que leva as pessoas a abandonarem suas casas e terras – e como contribuímos para esse desespero. 

A perspectiva da empatia revela uma conclusão oposta à que foi tirada por Stephen Pinker. Ela sugere estudar a abordagem oferecida pelo advogado do distrito da Filadélfia, Larry Krasner, em vez de adotar penalidades legais mais eficientes e ‘policiamento através de uma base de dados’. Krasner orientou os promotores a pararem de dar sentenças máximas, a parar de processar por porte de maconha. Em contrapartida, incentivou direcionar os criminosos para programas de reabilitação em vez de sistemas meramente punitivos, o encurtamento de períodos de liberdade condicional excessivamente longos, entre outras reformas. Apoiar essas medidas é sinônimo de compaixão: como é ser um criminoso? um viciado? uma garota de programa? Se por um lado ainda desejamos que essas pessoas saiam dessa posição, a vontade não é mais de puni-las pelos seus atos. Queremos oferecer uma oportunidade concreta de levar a vida de outra maneira. 

Do mesmo modo, o futuro da agricultura não repousa em uma pecuária mais agressiva, em agrotóxicos mais poderosos, ou na conversão do solo vivo em substrato industrial. Ele passa por reconhecer o solo como um ser vivo e preservar sua integridade, sabendo que sua saúde é inseparável da nossa. Nesse sentido, o princípio da empatia (como é ser você?) se estende para além da justiça criminal, política externa e relações pessoais. Agricultura, medicina, educação, tecnologia – nenhuma esfera está fora do seu alcance. Traduzir esse princípio para as instituições da sociedade (em vez de aumentar o alcance da razão, do controle e da dominação) é o que trará progresso real para a humanidade. 

Essa visão de progresso não é contrária ao desenvolvimento tecnológico; tampouco a ciência, a razão ou a tecnologia trarão essa visão à tona automaticamente. Todas as capacidades humanas podem ser postas a serviço de um futuro que incorpore a ideia de que o bem-estar do planeta, humanos e outros seres alimenta o nosso próprio. 


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